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Monthly Archives: June 2012

O que mais me impressionou em São Francisco?

Ver finalmente a Golden Gate Bridge, tão cinematograficamente retratada, pintada em “national orange”, para que seja visível durante os nevoeiros, que são frequentes.

Subir, descer e subir as ruas inclinadas, estar lá em cima e de repente cá em baixo, de colina em colina, porque as paisagens mais bonitas não são planas.

E a arquitectura da cidade, tão vintage por um lado, tão moderna – milenista, por outro.

A Eduardiana Hayes Valleyos murais de Fell Street, o número de restaurantes inacreditável de Geary Street (onde, reza a lenda, se pode almoçar e jantar durante um ano, sempre em sítios diferentes).

Adorei percorrer de carro essa cidade ilusoriamente pequena, porque  eu não tinha tempo, nem pernas, pés, tórax, pulmões ou coração suficientes para a conseguir calcorrear a pé…apenas vontade.

Vi são Francisco de várias colinas, e apeteceu-me ser ave para melhor sentir a brisa do Pacífico. Sobrevoei, ainda ave, a cidade toda, do Presidio a Haight Ashbury, detive-me em Pacific Heights, e de ave passei a estrela, e com Danny Glover, Nicolas Cage, Danielle Steel, George Lucas, Madonna e tantos outros habitei a Beverly Hills São Franciscana. Mudei-me depois para a Nob Hill, que me encantou pelo ar pseudo pretensioso, mas ainda assim muito convidativo.

Emocionei-me ao ver a praia…quis, ainda mais, poder surfar as ondas a mirar a ponte, e exausta, ir até a Cliff House…

Descobri o Golden Gate Park, ainda maior que o Central Park em Nova Iorque, e onde, ao contrário do seu homólogo, tudo é permitido (de jogos colectivos a piqueniques, de namoros adolescentes (não importa a idade!) a passeios com amigos. Aí, quis ser animal terrestre, e sentir a vida, o pulsar da natureza, enroscar-me na relva e tomar banhos de sol…

Mudei de época ao ver o edifício neoclássico do Palace of fine arts, magnificente, o marco central (hoje único sobrevivente) da Exposição Panamá – Pacífico de 1915. Tive pena de não ter visto o Museu de Arte Moderna e tantos, tantos outros, porque São Francisco é, acima de tudo, uma cidade ligada às artes.

E fiz, acima de tudo, com que [mais do que as recordações dos filmes] o que permanecesse na memória fosse tudo o que o olhar conseguiu abraçar.

O que ficou por fazer?

Ter mais tempo para viver a cidade. Pegar no carro e percorrer todo o Norte da Califórnia. Das vinhas de Napa Valley ao Redwood National Park, com direito a “mergulho” no Lake Tahoe.

Porque a Califórnia faz inevitavelmente parte do nosso imaginário. E porque só depois disso poderei dizer que lá estive.

Kids rush out 

and onto the bus

“move to the back”!

the driver yells

the bus bumps

up and down

through the hills

of San Francisco

and doors creak

with the stampede

of people

in and out

Ana Lei, 16 from “bus 49”

[Love Poems to the City by San Francisco Youth]

Traveller tips

 O que ficou por ver:

Muir Woods National Monument

Sausalito

Deluxe wine country – Napa Valley e Sonoma

Pequenas localidades circundantes – Carmel, Mendocino, Pasadena

Todo o Norte da Califórnia! (e porque não, toda a Califórnia!)

A minha Avó Nita, com quase 80 anos, por todos chamada de Mãe, é uma mulher alta, elegante e linda.

Foi, sem que me apercebesse, o meu primeiro ícone de elegância. Muito antes de eu saber o que significava a elegância, bem antes de eu conseguir soletrar, contextualizar, sequer utlizar essa palavra.

Nunca a vi sem estar arranjada. De dia ou de noite, a coser, cozinhar, a ver telenovelas, a dar aulas, sentada, de perna cruzada, no quintal, em doce tertúlia vespertina, a meio de um jantar. Sempre de vestido, salto alto, cabelo arranjado. Sempre com o seu chá, antes de dormir. De caxinde, tão mais genuíno, tão mais carismático que o meu Earl Grey.

A minha Avó não anda. Requebra. Ginga. Sempre de passo lento. Dá vida aos vestidos, faz maravilhas com peças de tecido que, sem ela, não têm graça. Brinca com o passar do tempo, desafia a gravidade, pelo corpo ainda bonito, pela pele que não denuncia a idade.

E imesuravelmente antes de eu saber o que eram revistas de moda, estilistas, ou super modelos, já a minha Avó ditava tendências na pequena cidade onde vivia: tornou os óculos graduados símbolos de glamour, foi a primeira mulher a conduzir, atraiu olhares de soslaio por ter começado a trabalhar fora de casa.

E agora, ela está deitada numa cama de hospital.

Muito antes de os resorts de luxo com SPAs maravilhosos serem para mim um local de desejo, e indizivelmente antes de eu querer ir ao Sul de França, Sul de Itália, Sul de Espanha, ou qualquer outro Sul, eu já tinha um Norte, que valia mais do que qualquer estância balnear: a Casa da Rua de Macau.

A casa que povoa os sonhos da minha infância. Porque as tropelias mais arriscadas, as brincadeiras mais inventivas, os lanches mais deliciosos, as brigas mais inacreditáveis e as juras mais invioláveis, aconteceram ali.

E porque “é” (na minha memória ainda o é) o resort mais luxuoso, carismático, exclusivo e personalizado que se possa imaginar.

Isto porque não há maior objecto de cobiça, tão luxuoso quanto inatingível, do que a cama king size dos avós. Porque aquele é um clube super exclusivo, com guest list incontornável, onde só entram irmãos, primos e os amigos mais chegados. Porque as refeições são as melhores do mundo e terminam sempre com feijão de óleo de palma. Porque ali o conceito de tempo é etéreo, os dias não têm 24h (não têm tempo nenhum, e têm ao mesmo tempo todo o tempo do mundo), e a preocupação e o stress são conceitos abstractos que ainda não fazem parte do nosso léxico. Porque em nenhum outro há histórias de embalar, nem uma mão gentil que nos entrança os cabelos, uma a uma. Porque há beijos, abraços apertados e colo por tudo e por nada. Porque saímos sempre das férias com os avôs um pouquinho mais estragados, mais mimados, mais insuportáveis até. Porque há a certeza de que a nossa presença é a mais desejada, a mais querida, a mais idolatrada, a mais esperada.

E porque, por tudo isto, apetece-me usar o “presente” e não algum tipo de pretérito, seja ele perfeito, imperfeito, ou algures lá pelo meio. Porque esse “presente” que reclamo aqui foi uma das grandes dádivas que a vida me fez.

E hoje, a dona dessa mão que acarinha, acalma, afaga, entrança…a dona dessa voz de palavras doces, está numa cama de hospital. E o que me custa ver a minha Avó numa cama de hospital.

O amor de uma Avó é – se pudesse ser quantificado, medido, determinado – talvez, tão forte quanto o de uma Mãe.

Não. Talvez mais forte ainda (se isso for possível).Talvez apenas mais incondicional. Quem sabe mais injustificado. Porventura ainda mais irracional. Porque o fruto do meu fruto não será só mais um fruto meu. É as minhas raízes, e o meu tronco, e folhas e seiva e a continuação, o passo à frente, a exteriorização num outro de tudo o que me caracteriza.

Isto sou eu a divagar.

A minha Avó, mulher determinada, pôs as filhas na linha e as netas (só) no coração. Desempenhou ambos os papéis de forma esplêndida, apesar de as primeiras não terem ficado lá muito bem comportadas e as segundas completamente mimadas.

Hoje passei todo o dia com ela, naquela cama de hospital. Falámos sobre muita coisa, percorremos vários anos, séculos mesmo, de histórias, de existência, de sentimentos, de mágoas e alegrias…

Pela primeira vez percebi (talvez pelo raio da cama de hospital) que da boca dela, muito sorridente, e dos olhos dela, de uma vivacidade pueril, saíam muitas vezes, dez vezes….vinte vezes, mais até (não consegui contar!) as palavras amor, calor, coração, carinho… e ainda mais amor, filhos, netos, família, tempo…todas elas conjugadas entre si, de várias formas, cada uma mais bonita, mais profunda, mais mágica do que a outra.

E por causa dessa cama de hospital, que há-de trazer de volta a saúde à minha Avó, onde os papéis se inverteram e fui eu a adulta a ajeitar a almofada e a ajudar a comer (porque pedi de empréstimo o papel, mas só por um bocadinho, que já to devolvo, sim?) , muitas conversas foram postas em dia, muitas lembranças vieram à flor da pele e muitos risos, abraços e beijos foram partilhados. Outra e outra vez.

TQuando soube que iria em breve a São Francisco, pus-me logo a matutar, a projectar, inventar e (tentar) recordar o (pouco!) que sabia sobre a cidade…resumidamente: as ruas inclinadas, graças aos filmes, a ponte (por causa dos filmes), os hippies (filmes), os movimentos gays (ainda os filmes), as artes e cultura (mais do mesmo)…

Digamos que o cinema tem feito o árduo papel parental de me incutir alguma cultura geral.

[Questiono-me sobre o que os adultos à minha volta estariam a fazer, enquanto eu papava filmes…]

Não chegava, obviamente, para estar pronta para explorar a cidade. Comecei então por pedir dicas aos amigos que já lá tinham ido, para obter aquele ponto de vista tão especial, pessoal e subjectivo (quanto criticável), que não se obtém de um guia de viagens…

Todos os meus amigos falavam da cidade com um carinho imenso e todos, sem excepção, querem lá voltar…inclusive o meu ortodontista, que com ar sonhador relembrava as belas férias que lá passou (enquanto, despreocupadamente, me infligia alguma dor).

As “principais atracções de São Francisco” estavam identificadas no meu guia American Express.

Era o meu primeiro dia em São Francisco, estava um dia de sol inacreditável e apetecia-me andar a pé, por isso decidi usá-las como ponto de partida.

Mesmo ao lado do hotel, na Stockton Street, fica a Union Square…uma pracinha simpática com um monumento fotografável, propícia para aquele desporto fantástico e de fama internacional chamado people watching (ou, em bom português, “ficar a ver a malta a passar”), ladeada por…(surto repentino, um gritinho interior, seguido de cegueira momentânea)…todas as lojas fantásticas que são um dos grandes motivos que nos fazem (a nós, “as miúdas”) desejar ir às compras aos Estados Unidos…Victoria’s Secrets, Armani Exchange, loja da Levi’s gigante, só rivalizada (em tamanho) pela da Apple (que é literalmente uma loja de brinquedos para adultos, porque causa a estes as mesmas reacções que àqueles ao entrarem na Toys R Us), os grandes armazéns (Macy’s e companhia), as lojas de primeira classe (Louis Vuitton, Cartier e amiguinhas),uns passos mais abaixo o enorme Westfield San Francisco Shopping Mall

Por tudo isso, para quem quiser ir às compras em São Francisco, os arredores da Union Square são a zona perfeita para ficar hospedado, porque permite fazer aquela coisa inteligentíssima (em que toda a gente já pensou) que é (i) ir às compras, (ii) deixá-las no hotel e (iii) seguir para os passeios como se nada tivesse acontecido! (com um sorriso aberto, de orelha a orelha…isso porque as contas à vida só se fazem quando se regressa a casa).

Daí para a Chinatown são 10 passos. Mesmo a chegar a Chinatown Gate e antes de mergulhar para o Oriente, sugiro uma paragem (não demasiado rápida) em Paris, mais propriamente no Café de La PressePorque não há pastelaria como a francesa, porque o espaço é amplo e bem decorado, a esplanada convidativa, e os pequenos almoços, rodeados de la presse do mundo inteiro, sublimes.

E de repente, a China!

(Quase) literalmente. Com Governo e hospitais próprios. Lojas e restaurantes (diz que o Four Seas é o melhor deles todos), gente de olhos em bico, ruas decoradas, especiarias suspeitas, e só faltavam mesmo os riquexós…

To be continued.

Ontem festejei dois aniversários: os 30 anos do meu primo B e os 89 anos de uma cidade.

A menina dos anos foi a cidade do Lubango, no Sul de Angola.

E foi com esta paisagem que ela me brindou, ainda da pista do aeroporto, quando a fui visitar há cerca de dois meses, pela primeira vez (também por causa de um aniversário!). Senti-me bem-vinda!

E por ter sido tão bem recebida, achei que seria simpático da minha parte retribuir o carinho com umas palavras de Parabéns!

Fez 89 aninhos (contados desde 1923, ano em que adquiriu o estatuto de cidade) e está fresca, fofa, viçosa e recomendável!

Vim de lá com o coração e estômago satisfeitos,  e com a sensação de ter descoberto a Província angolana com mais semelhança com os campos Suíços!

É verdade que a imagem da cidade está, digamos, “beliscada”, mas ela esforça-se por preservar a dignidade de outros tempos. Ela, que em tempos foi apelidada de “Jardim de Angola”, e que ainda conserva toda a sua beleza naturalmente  inspiradora , que envolve cascatas, serras, longas planícies, fendas gigantes, uma estrada em ziguezague que desemboca no deserto, tudo isto abençoado pelo Cristo Rei que olha lá de cima com ar complacente.

Curioso? Então apanhe o avião ou prepare o Jeep e faça-se à estrada.

Vai encontrar: as cascatas da Huíla e da Hunguéria, a maravilhosa serra da Leba que insiste em marcar encontros sucessivos num infindável namoro com o deserto do Namibe, a Nossa Senhora do Monte com a sua função dual de confessionário e miradouro com vista sobre a cidade, a profunda fenda da Tundavala, que decerto esconde a resposta para muitos dos mistérios da humanidade e a serra da Chela, que seguindo a linhagem Carioca é coroada pelo Cristo Rei!

O Pululukwa Resort foi uma das grandes surpresas. Já tinha ficado curiosa com a descrição feita na revista Villas e Golfe, com a sua decoração rústica mas com imenso requinte, as suas “aldeias” que lembram tanto a Madeira (sim, o arquipélado Português) como um “Kimbo” no Sul de Angola. E depois, também com peças vindas da Tailândia, tectos Sul – Africanos e tantos outros pequenos pormenores que fazem uma grande diferença. Como a atenção de todos os funcionários. E os doces caseiros feitos com frutos da terra.

Pululukwa, em Umbundo, um dialecto do Sul de Angola, significa “Descanso”.

E como não ficar descansado se por todo o lado há o murmúrio meio lamechas da água a correr, o cheirinho a goiaba madura que vem das árvores à entrada dos chalets, mesmo à distância de um esticar de braços para saciar a gulodice, um Restaurante cuja ementa é flexível aos caprichos das estações e que faz questão de usar os produtos do Lubango (e não se espantem se a deliciosa carne da terra for acompanhada de Brincos de Princesa, nem se refrescarem a garganta com um granizado de goiaba acabadinha de apanhar)…

…tudo apimentado pela promessa (em jeito de provocação) de uma praia fluvial e de um SPA que, garantiram-nos, estão quase, quase a sair…

O “Kimbo do Muholo”

A aldeia Madeirense…

Depois de inúmeros passeios, subidas e descidas, curvas e contracurvas, e de beber água  directamente do rio, ouvimos o mujimbo de que haveria um Kimbo do Soba (restaurante) pronto a receber-nos, com carne de caça já a galopar para a grelha: Javali, Oryx, Kudu….e crocodilo! cujo sabor se situa algures entre a galinha e o peixe (à parte: tão mauzão e afinal sabe a galinha!).

Este é apenas um cheirinho, um teaser dos encantos do Lubango.

Ficou muito por fazer. O duo Lubango – Namibe merecem viagem radical, com direito a banhos de cascata, descida vertiginosa na Serra da Leba e campismo no Oásis do deserto do Namibe.

Fica para  a próxima vez, quando me decidir a seguir os passos de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens até à contra-costa.

E porque uma imagem vale mais do que mil palavras, deixo-vos mais quatro, para valorizar a escrita e deleitar os olhos:

A serra da Leba…

E foi assim que, da pista do aeroporto, o Lubango se despediu de mim. E por essa gentileza, nunca esquecida, hei-de voltar!

Lubango e Primo B, que contem muitos mais anos de vida!

Gourmet tip: se forem ao Lubango/Namibe, não se esqueçam de provar os morangos, o chouriço caseiro e o caranguejo! de comer e chorar por mais. Aos altos berros.