Seriam apenas alguns (demasiado poucos) dias em São Tomé, um país tão pequeno e com tanto para experienciar… Porque ver, visitar, dar uma vista de olhos não seria, de todo, suficiente. Seria necessário despirmo-nos (quase literalmente) de toda a bagagem trazida, e deixarmo-nos embrenhar nesta experiência mágica.
O ilhéu das Rolas, ali ao lado, é de passagem obrigatória pelo incontornável marco do Equador, onde o Norte e o Sul conseguem ser envolvidos num abraço.
Um momento marcante da viagem, em que nos sentimos descobridores, no meio da floresta equatoriana, com o sorriso pueril de quem acaba de concretizar mais um sonho de viajante.
De volta à ilha, seguimos para norte.
Praias de água cristalina, areia branca, coqueiros e o verde sempre presente. O paraíso, sem dúvida. Demos mergulhos deliciosos a cada paragem, sem a mínima preocupação com as roupas encharcadas, sem querer um espelho à mão, sem nos movermos um centímetro se de repente começasse a chover.
O epíteto da liberdade e comunhão com a natureza.
Praia dos Tamarindos, Mucumbli, Lagoa Azul. Um dos pores-do-Sol mais bonitos de que tenho memória.
Pelo Sul, parece impossível que no tal paraíso haja uma ‘boca do inferno’, que poderia ser, pela bravura do mar e exotismo, o porto de chegada da tal barca, no conto impossível de Gil Vicente…
Almoçámos no Mionga, e fomos mimados com as iguarias da terra, num sem fim de misturas exóticas de frutos do mar com frutos da terra, bolinhos de arroz, peixe frito com pepino, folha-mosquito, sopa de micocó com matabala, peixe-andala, peixe-azeite… sempre com o mar em pano de fundo, banda sonora marítima a completar a cena.
E o rol de praias recomeça: Micondó, Piscina, Jalé, Cabana… pedaços de céu esquecidos no meio do Atlântico.
Pernoitámos no Praia Inhame Eco Lodge, onde os jantares são servidos mesmo em cima da areia.
Foram momentos de sonho partilhados com quem nos quer bem.
Para brindarmos a dias inesquecíveis, decidimos experimentar o menu de degustação da Roça São João dos Angolares, do chefe João Carlos Silva, um menu que é uma pura provocação ao palato, cozinha de fusão de qualidade internacional, em homenagem aos costumes locais.
É impossível sair de lá indiferente, não há quem não queira regressar. Um país com alma verde, que conseguiu abrandar o tempo, e que brandamente nos recorda do que verdadeiramente importa para sermos felizes.
São Tomé…leve – leve-me.
P.S. Na próxima viagem, o Príncipe.
*Crónica originalmente publicada na Edição 55 da Espiral do Tempo.
** Texto sujeito ao acordo ortográfico em vigor em Portugal.